A história da Sociedade Anatómica Portuguesa merece lugar de destaque na História da Medicina em Portugal.

Sociedade criada em 1932, integrou entre os seus membros das mais destacadas figuras da Medicina Portuguesa. Para melhor contextualização da sua cronologia muito contribuíram dois grandes Mestres das Ciências Morfológicas, o Professor Doutor Abel Sampaio Tavares e o Professor Doutor Esperança Pina e ainda distintos Colegas que através do seu contributo nos permitiram colher os elementos que se seguem.

A todos a nossa gratidão e reconhecimento já que foi propósito desta direcção eleita em 2011 dar a relevância merecida a toda esta cronologia de importantes eventos científicos.

Pelo seu interesse e relevância procedemos à transcrição de manuscritos gentilmente cedidos pelo Professor Doutor Abel Sampaio Tavares

Contribuição para a história da Sociedade Anatómica Portuguesa:        

Em Ciência, desde sempre, têm os investigadores procurado difundir os resultados dos seus trabalhos e propor as teorias que lhes pareciam conformes com os factos que iam observando ou de que tinham conhecimento, e apreciar os resultados e conclusões de outros que, mais longe ou mais perto, tinham idêntica atividade. Em finais do século XV, a descoberta da Imprensa, permitindo a vulgarização e a difusão do livro e o movimento intelectual do Renascimento, contribuíram extraordinário impulso para o intercâmbio científico e difusão e apreciação dos dados novos, que se iam progressivamente e pacientemente acumulando. Já em séculos anteriores, a fundação e multiplicação das Universidades na Europa – com ensino generalizado em língua latina, e intercâmbio crescente de professores e estudantes – além de assegurar preparação de jovens para o desempenho idóneo de elevadas atividades profissionais, despertara progressivo interesse pela pesquisa científica, e exercera marcada influência sobre o nível cultural ambiente. A partir do século XIX, os progressos dos meios de comunicação, terrestres e marítimos, tornaram mais fáceis, menos onerosos, menos incómodos e mais seguras, as viagens por longas distâncias. Foram, assim, crescendo as possibilidades de encontro dos investigadores dos vários ramos do conhecimento, e os frutos do intercâmbio pessoal directo não tardaram a manifestar-se. Mais tarde, no final desse século, chegou-se à institucionalização de revistas periódicas, nacionais e internacionais, e à criação, para esse fim, um pouco por toda a parte, de Sociedades Científicas. No seu seio se expunham, comparavam e discutiam os resultados das observações e experiências de cada um ou dos centros onde tinham iniciado a sua atividade – em Sociedades ou círculos cujos objetivos se iam centrando em campos cada vez mais restritos, dada a progressiva extensão e aprofundamento dos conhecimentos científicos e consequente especialização dos seus cultores. Essa tendência tem-se vindo a acentuar desde então, e em especial, nas últimas décadas. A difusão dos transportes aéreos, com a sua rapidez e comodidade veio possibilitar a realização frequente de grandes congressos ou de reuniões muito especializadas, a nível internacional.»

Abel Sampaio Tavares

A Fundação da Sociedade Anatómica Portuguesa data de 1932. Logo no ano seguinte, preparou-se, em Abril de 1933, a primeira Reunião Magna, coincidindo conjuntamente com a 27ª Reunião da Associação de Anatomistas Franceses. Dessa reunião guardam-se três originais documentos fotográficos, gentilmente cedidos por Sampaio Tavares.

Congressistas nos claustros  das instalações no Campo Mártires da Pátria – Abril de 1933 (1ª Reunião da Sociedade Anatómica Portuguesa  – Lisboa, 10 – 12 de Abril de 1933, conjuntamente com a XXVIII da “Association des Anatomistes”. Era Presidente Henrique de Vilhena).
Congressistas nos jardins do Casino do Estoril– Abril de 1933
Congressistas no banquete de encerramento no Casino do Estoril– Abril de 1933

A esta primeira reunião magna, seguiram-se reuniões anuais, ou bienais, em Lisboa, Porto e Coimbra, contando-se até aos dias de hoje, 47 reuniões, muitas das quais preparadas de modo conjunto com reuniões das principais Sociedades e Associações de Estudos Morfológicos europeus e mundiais, como se pode facilmente consultar na tabela que construímos em anexo.

Algumas das reuniões foram propositadamente coincidentes com deslocações ao estrangeiro de delegações da SAP, sobrepondo-se os trabalhos de apresentação científica com os trabalhos regulares da Sociedade, em cidades como Granada, Santiago de Compostela, Valencia, Salamanca, ou ainda mais recentemente, Goiás e S.Paulo no Brasil.

Outras vezes, fizeram-se coincidir essas reuniões regulares, com a deslocação a Portugal de delegações estrangeiras para importantes Congressos Internacionais organizados no nosso País. Realçamos, a título de exemplo, três reuniões da Associação dos Anatomistas Franceses, o Congresso Internacional de Zoologia, sete Reuniões da Sociedade Luso-Hispano-Americana, três Congressos da Sociedade Luso-Brasileira de Anatomia, diversas reuniões da Sociedade Portuguesa de Microscopia Electrónica, e dois International Symposium of Morphological Sciences, congregando os principais especialistas mundiais em ciências morfológicas, em torno dos trabalhos regulares da Sociedade Anatómica Portuguesa.  Aproxima-se, neste ano de 2013, a Reunião da Sociedade Europeia de Anatomia Clínica.

Neste rumo seguro e regular de trabalhos, ao longo dos anos, a Sociedade tem-se vindo a impôr, em termos internacionais, não só como a mais antiga Sociedade Científica em actividade, da Península Ibérica, como também uma das mais conceituadas associações mundiais de especialistas em Morfologia.

O culminar desses esforços de consolidação e divulgação internacional corresponde ao momento da eleição por unanimidade, em 1994, do Prof. J.A. Esperança Pina para Presidente da Federação Internacional das Associações de Anatomia, a principal associação mundial de especialistas em ciências morfológicas. Terá sido esse o momento áureo, não só da Sociedade Anatómica, como também da Morfologia Nacional e Internacional, que este nosso consócio tanto prestigiou com a excelência do seu trabalho científico.

Próximos de completar o primeiro centenário de trabalhos científicos regulares, com projecção internacional, compete à actual Direcção da Associação Anatomica Portuguesa/Sociedade Anatómica Portuguesa, um esforço acrescido não só no sentido da consolidação da importância mundialmente adquirida, como também, de modernização permanente e de actualização do pendor científico dos trabalhos dos consócios.

Nesse sentido, congratulamo-nos pelos recentes esforços de congregação, no seio dos corpos gerentes da Sociedade (Mesa Assembleia Geral, Direcção, Conselho Científico, Conselho Fiscal), pela primeira vez, de consócios de cada uma das principais Faculdades Nacionais, com ensino de Anatomia.

João Erse de Goyri O’Neill, 2012